Oficinas Criativas e Transformação Social: Caminhos de Aprendizagem e Participação Comunitária
(PIEF)
A implementação de projetos de intervenção socioeducativa em contextos comunitários, como o espaço ECOA, evidencia a importância de uma abordagem que transcenda o ensino formal, promovendo a aprendizagem ao longo da vida como um processo integrado na vida quotidiana das pessoas e das comunidades. Projetos nos quais a escuta ativa, a expressão e reconstrução de sentidos emergem — espaços onde a arte ecoa como meio de emancipação individual e transformação coletiva.
A complexidade e profundidade deste género de intervenção requerem respeito pelos tempos e fases do processo. Como defendem Castillo Arredondo e Cabrerizo Diago (2011), qualquer intervenção educativa exige uma sequência estruturada que compreende desde a fase diagnóstica até à avaliação reflexiva, permitindo a adaptação contínua às necessidades reais dos participantes. Neste contexto, cada etapa – da planificação inicial à recolha e interpretação de dados – não se trata apenas de técnica, mas essencialmente de ética e política. Significa compreender os contextos de vida, as vulnerabilidades e os sonhos das pessoas envolvidas.
Assim, respeitar cada fase da intervenção não é um exercício de rigor burocrático, mas uma prática de escuta e negociação. Como evidencia Guerra (2005), a ação coletiva pressupõe uma articulação complexa entre interesses divergentes. Neste jogo de forças, o educador social assume um papel essencial enquanto mediador de sentidos, facilitador de processos e intérprete de necessidades reais e sociais. A sua prática não se limita à execução de tarefas: exige competências de escuta ativa, argumentação reflexiva, adaptação cultural e ética da intervenção.
O projeto ECOA, neste sentido, revelou-se um espaço ágil de cidadania ativa, no qual respeito pelas vozes individuais e coletivas impulsionou uma pedagogia centrada na solidariedade, na inclusão e na corresponsabilidade (Fávero et al., 2009). A sua construção alicerçou-se num modelo de desenvolvimento que valoriza as parcerias, em consonância com o que defende Monteiro et al. (2017): a transformação social exige abordagens colaborativas, enraizadas em compromissos partilhados entre os diversos atores do território.
Contudo, o trabalho colaborativo apresenta desafios significativos. É necessário estabelecer-se objetivos, gerir contradições e potenciar uma comunicação comum entre entidades públicas, técnicos, educadores, participantes e entidades financeiras. Neste contexto, o educador social deve assumir um papel de mediador entre distintos mundos — alguém que, como enfatiza Guerra (2005), saiba "marchar com o mesmo coração", mesmo quando os passos são diferenciados. A mediação torna-se, assim, uma prática pedagógica e política, onde se alinham interesses em prol de um bem comum, frequentemente invisível, mas essencial: a dignidade humana.

A experiência do ECOA reforça ainda que a avaliação não pode ser pensada como um mero instrumento de controlo, mas sim como um processo contínuo de aprendizagem e transformação. Avaliar é escuta ativa, interpretação, ajuste e recomeço. É permitir que o projeto evolua com a comunidade, e não apenas para a comunidade. Assim, tal como preconiza a UNESCO (2021), promover uma cultura de aprendizagem ao longo da vida implica colocar as pessoas — especialmente as mais vulneráveis — no centro da ação, reconhecendo os seus interesses e aptidões, bem como os seus percursos de vida.
Em última análise, mais do que simples criações artísticas, o ECOA gerou vínculos afetivos, fortaleceu processos de empoderamento, promoveu o reconhecimento mútuo e cultivou um profundo sentido de pertença. Demonstrou que, quando se respeitam os ritmos próprios da comunidade, quando se dá voz aos intervenientes e atua-se com sentido de compromisso e responsabilidade, a educação transcende os limites do ensino formal para se afirmar como experiência vivida, partilhada e enraizada no quotidiano das comunidades. E é precisamente na sinergia entre experiência, expressão e relação que a vida se transforma num verdadeiro projeto coletivo de emancipação e transformação social (Castillo Arredondo & Cabrerizo Diago, 2011; Fávero et al., 2009; Guerra, 2005; Monteiro et al., 2017).
Ateliers Artísticos: Onde a Arte Ganhou Vida
No ECOA, cada oficina foi idealizada como um espaço de experimentação, aprendizagem e expressão. O foco esteve sempre na participação ativa, na troca de saberes e na valorização das capacidades de cada participante.
O início do projeto coincidiu com um período particularmente desafiante – o confinamento imposto pela pandemia de Covid-19. Apesar das limitações, a equipa decidiu avançar, adaptando a metodologia. Com base num acompanhamento domiciliário semanal, foram lançados desafios artísticos semanais como forma de manter o vínculo e estimular a...
Projeto ECOA: REage em Rede - CLDS 4G
Em 2021, na cidade de Almada, a Santa Casa da Misericórdia de Almada, enquanto entidade coordenadora do projeto de intervenção comunitária (RE)age em Rede – CLDS 4G, deu início a uma iniciativa com um propósito claro: criar um espaço de desenvolvimento pessoal e social para pessoas em situação de isolamento e/ou com experiência em doença mental....
*Preâmbulo*
Num mundo repleto de desafios sociais, existem projetos que se destacam ao proporcionar algo essencial: um espaço comunitário de escuta ativa, criação e pertença. Foi com esta visão que, em 2021, a Santa Casa da Misericórdia de Almada lançou as oficinas criativas, ECOA – Espiral Criativa Oficina de Almada, inserido no projeto comunitário (RE)age em...




