Aprendizagem ao Longo da Vida: Uma Construção Comunitária para um Futuro Inclusivo
Num mundo em constante mudança, no qual os desafios sociais e ambientais exigem respostas coletivas, a aprendizagem ao longo da vida assume-se como um princípio orientador essencial para a construção de sociedades mais justas, inclusivas e resilientes. No entanto, como adverte a UNESCO (2021), esta aprendizagem não deve ser entendida apenas como um processo individual e técnico, desprovido de contexto. Pelo contrário, deve ser reconhecida como uma prática profundamente social e intergeracional, enraizada nos territórios, nas relações humanas e nos laços comunitários.
Aprender ao longo da vida é, assim, aprender com os outros — não apenas em instituições formais, mas em todos os espaços da vida quotidiana. Esta perspectiva implica reimaginar a educação como um ecossistema de oportunidades acessível a todas as pessoas, especialmente às mais vulneráveis e marginalizadas, cuja participação deve estar no centro das políticas públicas (UNESCO, 2021). Neste sentido, como sublinha Azevedo (2007), trata-se de valorizar as aprendizagens que emergem das próprias comunidades, reconhecendo o saber que já reside nas pessoas e nos seus contextos, e promovendo uma educação que seja efetivamente emancipadora, transformadora e com propósito.

Ao invés de se reduzir à transmissão de conteúdos codificados, a educação torna-se um processo de descoberta partilhada, de construção de sentidos e de desenvolvimento de competências para viver em união. Aprender, neste quadro, é aprender a ser — e aprender a viver com os outros (UNESCO, 1996). Esta visão alinha-se com os pilares propostos pela Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI, destacando a aprendizagem como ferramenta de inclusão, cidadania e dignidade.
Nesta ótica, iniciativas como o projeto ECOA, um espaço de fomentado por práticas artísticas e partilha criativa ganham um significado ainda mais profundo. Mais do que um conjunto de ateliers de pintura, serigrafia, carpintaria ou costura, este espaço emergiu como um território ágil de aprendizagem, acolhendo pessoas com distintos percursos e oferecendo-lhes condições para explorar o seu potencial criativo e relacional. Aqui, a arte não é um fim em si mesma, mas um meio para fomentar o crescimento pessoal, o apoio mútuo, a expressão identitária e o fortalecimento dos laços comunitários.
Este projeto representa, na prática, aquilo que Azevedo (2007) defende como a "regulação sociocomunitária da educação" — um modelo que desloca o foco do ensino para a aprendizagem significativa, situada e coletiva. Ao integrar diferentes gerações, promover a autonomia e valorizar a experiência, este espaço concretiza a ideia de cidade como comunidade de aprendizagem, onde o desenvolvimento é cocriado por todos e para todos.
Refletir a aprendizagem ao longo da vida não é apenas uma proposta pedagógica: é um ato político e ético. É uma aposta na dignidade humana e na construção de futuros partilhados, que exigem diálogo, escuta ativa e criatividade. Projetos como este revelam que é possível transformar territórios a partir da educação — desde que se reconheça que todos têm algo a aprender e algo a ensinar. E que aprender, na verdade, é uma forma de permanecer em espírito de união com mais esperança, consciência e solidariedade.
